F*ck Yeah Menswear

14 de novembro de 2012

                   

O termo #menswear, ou hashtag menswear, se refere a um grupo específico de pessoas que escrevem sobre moda masculina sob um ponto de vista bem específico. O termo nasceu quando o tumblr concedeu autoridade para que algumas dessas pessoas taggeassem certos posts com o #menswear (azul).

A dois anos atrás Lawrence Schlossman e Kevin Burrows criaram um tumblr anônimo chamado Fuckyeahmenswear, usando um formato de rap/poema para tirar sarro de um círculo bem específico a qual pertenciam. O tumblr ganhou popularidade e muito foi-se especulado sobre a identidade dos autores, que só se revelaram depois que assinaram o contrato para um livro:


Segunda feira recebi aqui em casa o livro F*ck Yeah Menswear. Quem usa o Tumblr com certeza conhece o #menswear e provavelmente vai achar o livro excelente. Quem não usa o Tumblr e não tem a mínima idéia do que se trata, provavelmente vai ficar boiando.


Por alto, a história é mais ou menos assim: Tudo começou quando um novo tipo de blogueiro de moda masculina apareceu. Um tipo diferente do adolescente obcecado com sentar na primeira fila dos desfiles, que muitas vezes tinham mais em comum com as mulheres do que com os homens. Ele também não se diziam gurus, não se limitavam a dissertar sobre o que usar em um casamento ou que roupa vestir para uma entrevista de trabalho. O novo tipo de blogueiro acrescentou um ponto de vista hetero bem específico, a um universo que era considerado das mulheres.


Estes blogs olhavam para a moda masculina da mesma maneira que um cara olha para carros ou esportes. Grande parte dessas pessoas vieram de uma cultura do skate e hip-hop, ex-sneakerheads e frequentadoras de forums onde compartilhavam suas últimas compras e discutiam as últimas novidades. Com o tempo envelheceram, sem deixar de gostar de hip-hop, e começaram a aplicar a sua maneira obsessiva e linguagem aos demais produtos do vestuário masculino, sempre buscando o novo e o melhor. Para eles, visitar uma certa loja ou fábrica era a mesma coisa que ir a loja da Apple comprar o último lançamento, ou estar nos bastidores de filmagem de O Hobbit. Um sapato e um terno envolviam tantos detalhes e engenharia quanto um carro. Os trade shows de roupas masculinas viraram verdadeiras convenções de Guerra nas Estrelas. Este pessoal achou a sua casa no tumblr, um ambiente prático e sem complicações para compartilharem o que quisessem. 

F*ck Yeah Menswear é uma capsula do tempo dessa subcultura nerd. Cheio de referências específicas e uma linguagem própria que mistura o hip-hop com a internet: "cop some jawns", "dude is sprezzy", etc. Além dos textos e imagens no mesmo formato do tumblr, que não perdoam nenhum jargão e não deixam nenhuma piada interna passar, o livro ainda conta com um dicionário com alguns termos #menswear, uma lista de lojas, arquetipos de estilo, uma lista de essenciais e outra de produtos por "nível" de poder aquisitivo, tudo com bom humor. 

5 comentários:

  1. Genial!

    Mais do que falar sobre o tumblr, você imprimiu nessa postagem exatamente a relação real que as pessoas deveriam ter com roupas e estilo.

    A visão "hétero" e clássica sobre estilo estava perdida até pouco tempo. Ainda bem que voltou. Referências pra quem quer ser Marlon Brando, não Kate Moss.

    Há alguns dias tuitei sobre algo que acho patético: andando pela região da Paulista/Augusta, percebo que os mesmos caras que no início do ano andavam com camiseta de gola V até o umbigo, calça skinny de cintura baixíssima, tênis descolados e eram extremamente afetados, agora deixaram o bigode crescer, raparam as laterais do cabelo, compram um blazer, botas e andam fazendo pose de "homem sério". Pra daqui uns meses mudarem novamente. Atitude virou tendência passageira que nem o tipo de roupa.

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    1. Eu não sei se dá para condenar todas essas mudanças. Não vejo nada de errado em experimentar coisas diferentes nem em envelhecer a maneira de vestir. De uns cinco anos para cá os meus experimentos estão bem mais conservadores. São variações da mesma coisa, mas até chegar nisso eu passei por muita fase. Agora até a minha paleta de cor diminuiu. Mas vai que aparece algo muito foda que nunca tinha visto, ou que eu passe por alguma experiência que altere a minha percepção.

      Acho que para mim foi um processo de tentativa e descoberta. Em cada fase eu deixei para trás as coisas que achei ruins e levei para frente as que achei boas. No final cheguei no que hoje é o meu estilo. Ele pode mudar, mas eu não ligo o suficiente para a moda para forçar uma mudança anual completa. Não vejo sentido em fazer um esforço não orgânico e gastar esse tipo de energia com roupas.

      Mas sei que tem gente que enjôa da imagem e se sente bem trocando toda hora, incorporando personagens, sei lá. Pessoalmente não acho isso legal. Mudanças drásticas e rápidas não deixam tempo para aprendizado e abordagens superficiais significam uma opinião mal formada, e quase sempre equívocada. Por isso a pessoa acaba virando uma vítima da moda, sem identidade e que se deixa definir por marcas e tendências.

      Acho que eu extrapolasse a comparação para coisas mais importantes do que roupas, o cara que faz essas trocas repentinas seria aquela pessoa que dá opinião sobre tudo como se fosse expert. Que vê uma estatística e sai compartilhando no facebook achando que ela é conclusiva. Que lê qualquer notícia política e bate o martelo sem procurar verificar as informações. Aquele gringo que passa carnaval feliz da vida no camarote em Salvador e pronto, para ele aquilo é o Brasil.

      O legal do livro é que ele tira sarro de um movimento que na época se levava muito a sério. Uma das coisas que estou aprendendo ultimamente é que no fim das história roupas são apenas roupas, eu acho algumas coisas legais e outras não, e nem sempre tenho que saber porque. Quem não está nem aí para roupas perde um meio de expressão e a oportunidade de diversão que elas proporcionam. Quem leva a sério demais acaba perdendo a diversão, e quem está muito aí acaba tentando demais e não encontra o que quer expressar.

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    2. PS: Sobre a superficialidade. O antenado sabe tudo sobre as tendências, mas não tem tempo de se conhecer e nem de organizar tudo de forma coerente. Estou reparando que é muito comum que os moderadores de blogs moda façam excelentes resumo dos forecasts de tendências mas se vistam muito mal. Eles não conseguem aplicar as dicas que dão, muitas vezes nem mesmo na hora de escolher imagens para ilustrar posts (para postar sapatos "sociais" eles sempre escolhem os mais horríveis). Canso de ver compartilhar foto com cara com os dois botões do blazer abotoados, com manga batendo no dedão ou com uma gravata mega fina e uma lapela gigante. Não tem tempo ou interesse para olhar os detalhes, apenas idenficar se está presente aquela peça "tendência".

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    3. Eu também não condeno as mudanças, não. Difícil é encontrar algo sem, antes, passar por várias fases (Que muitas vezes até nos envergonha de lembrar, hahaha). Falei sobre gente que incorpora a vestimenta e a "mentalidade" relacionada a essa vestimenta, por alguns meses, porque é a tendência do momento. É um pessoal que se apega só à "silhueta" da coisa. Não consegue se vestir bem porque os interesses estão mais ligados a qualquer outra coisa do que à própria estética. Por isso, a preocupação deles é "vestir um blazer" e não "qual blazer vestir?". É, simplesmente, colocar um amontoado de peças "in" e incorporar um espírito que eles pensam ter alguma coisa a ver com o tipo de roupa que estão usando.

      O que mais me incomoda nesses blogs de moda é que esse povo é muito influente. O homem comum que, por qualquer motivo, começa a se interessar por roupas, encontra esses blogs no google. E esse cara, ou definitivamente se afasta desse mundo por sentir que é afeminado demais ou adquire a mentalidade de ter que ficar ligado no que é tendência e seguir regras que geralmente não fazem o menor sentido - porque os caras que escrevem não sabem do quê estão falando. Esses blogueiros vão a programas de TV dar pitaco e falar sobre estilo, influenciam demais as marcas brasileiras... Infelizmente, perpetuam a mentalidade rasa que o brasileiro em geral tem em relação às roupas.

      Desabafo, hahaha.

      (Falei como se você conhecesse, mas como não tenho certeza, vou explicar: esse é um efeito bem típico da Av. Paulista e R. Augusta, onde se concentra o que é há de "melhor" e de "pior" em São Paulo. Lá você pode encontrar os caras mais estilosos e uma concentração desses tipos de blogueiros de moda. Que andam como se estivessem o tempo todo sendo fotografados pra algum blog de streetstyle, medem a roupa dos outros, se vestem pra competir, se sentem superiores etc.)

      Só seus comentários dariam uma outra postagem. Como sempre digo e repito: Lucas, tu é gênio!

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    4. Entendi o que você quis dizer. É uma coisa bizarra mesmo. Também horrorizo quando vejo alguma figura em programa de TV.

      Eles são influentes ai em São Paulo? Me surpreende terem influência se o conteúdo deles espanta o homem comum. Desconheço blogs masculinos em Belo Horizonte. Tem o HypeBR que é daqui, mas ele é mais um agregador de notícias, tipo HypeBeast. E tem um outro, mas é direcionado ao público gay teen.

      Essa coisa de marca é muito bacana. As blogueiras souberam preencher um vácuo e hoje tem as marcas praticamente na mão delas. Eu acho que as marcas masculinas assistiram tudo isso de camarote e tem a chance de preencher este espaço no universo dos homens. Essas marcas mais tradicionais que tem nome e história poderiam facilmente usar a internet para se posicionarem como a voz de autoridade na moda masculina.

      Ia funcionar muito bem para homem porque são poucos os que querem pensar sobre roupas. No fundo só precisam de alguém para pegar na mão, resumir tudo e dizer o que é legal.

      Ah, o que eu queria falar logo no começo deste comentário era para você ler essa notícia aqui. É uma discussão bem interessante:

      http://www.businessoffashion.com/2012/11/op-ed-making-the-case-against-fast-fashion-collaborations.html



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