Seminário Moda I

14 de dezembro de 2012

No final de Novembro eu assisti ao I Seminário do Centro de Referência de Moda de Belo Horizonte. Foram três dias de palestras englobando o tema da Memória, Negócios da Moda e Criação e Desenvolvimento. O que me chamou a atenção foram as palestras sobre Negócios da Moda mas aproveitei o embalo para assistir ao seminário do dia seguinte sobre Criação e Desenvolvimento. Aprendi muito principalmente sobre os diversos aspectos e possibilidades profissionais que existem no ramo. Achei engraçado falar sobre um assunto que eu quase só falo a respeito na internet. Fiz algumas anotações no meu caderno e dividi elas em duas partes.

Pt. I:


- Tive a sensação de que a moda se transformou (ou sempre foi?) um minúsculo grupo de criadores cercados de uma indústria voltada para a cópia. Sem vontade própria, só o desejo de entregar ao consumidor o que ele quer, conforme ditam os relatórios e publicações comerciais. Não senti a vontade de produzir para superar as expectativas e nem de lojas querendo vender algo diferente. As roupas são o menos customizadas possíveis, com qualidade mínima e um desenho dentro de uma zona de segurança confortável.

- A pauta e perguntas geradas por palestras como a Coopa-Roca e da Mary Design foram uma espécie de versão feminina das marcas de menswear que gosto de acompanhar. Essas marcas tem história, começaram com uma visão e se preocupam não somente em como será o produto, mas também com o  que ele será feito, como será feito e por quem será feito.

- Eu acho isso legal porque tenho observado uma nova era de consumismo. É um grupo que deixou de ignorar a história de como uma peça chega até a sua mão. São pessoas que perceberam que um produto não é apenas uma commoditie funcional e nem meramente um meio de expressão artística. Esse grupo deu um passo para trás para concluir que um produto é um objeto criado a partir do agregado de técnicas de fabricação, de pensamentos, trabalho humano e uma lógica de produção específica que fazem toda a diferença. Por isso, muitos criadores estão prestando cada vez mais atenção ao processo de criação, já que os consumidores estão cada vez mais engajados com a história por trás do que eles compram.

- De certa forma nós abandonamos todos os produtos feitos à mão para conseguir garantir que todos os consumidores tivessem o mesmo nível de qualidade. As máquinas conseguem produzir com consistência, e em épocas de alto risco isso foi uma inovação fantástica. Mas os tempos mudaram e estamos voltando a apreciar as pequenas diferenças que tornam um produto único. A consistência virou um aspecto banal do consumismo, e por isso marcas menores conseguem alavancar as suas escalas adicionando um toque humano de volta no produto. Troncos abandonados e tecidos de estoque morto são transformados em decorações. Bordados manuais são aplicados em cada anel, garantindo que cada um seja único. Essas pequenas modificações na manufatuar moderna oferecem ao consumidor a chance de experimentar uma autenticidade única, que no passado era comum.

- Na moda masculina por exemplo, tenho reparado novas marcas gringas e o retorno de velhas marcas que procuram criar uma novidade através de um passo único durante o processo de produção, ou replicar um processo mais trabalhoso que existia no passado. Muitas vezes o produto final é uma peça de aparência comum, tirando talvez o uso de algum tecido exótico, mas o que importa para o consumidor destas marcas é ter na consciência a forma que ele foi feito. Outras vezes eles são perfeitos justamente por serem imperfeitos, wabi sabi. É um fenômeno muito interessante, mas já faz um século que a forma como fabricamos as coisas é mais ou menos a mesma, então porque é que o mundo de repente começou a se interessar pelo processo tanto quanto no resultado?

a) Outra coisa, que absorvi nas palestras, foi que de certa forma a moda não tem mais para onde ir. Conforme a palestra da Harper's Baazar, a indústria está atolada até o joelho no tal do “pós-modernismo”. Com a internet, todos os estilos da história da humanidade estão disponíveis para os designers como referência e inspiração. Os arquivos estão abertos para qualquer pessoa vasculhar, e as referências podem ser localizadas com um simples clique. Não existe mais nenhum perigo nas decisões de design, todas as regras já foram quebradas e todos os estilos esquecidos já foram revividos e celebrados. Como foi dito nas palestras, a moda é sobre a celebração contíua de diferenças e semelhanças, e no ponto que estamos o estilo e o design sozinhos já não conseguem sustentar uma narrativa forte o suficiente para fascinar as audiências, que está cada vez mais exigênte. As audiências mais sofisticadas, portanto, querem saber mais e mais sobre o que acontece por trás das cortinas do showroom e o que torna um produto único sobre a perspectiva material.

b) O luxo se tornou um marketing de massa global, que compra espaços em revistas e abre lojas em todos os cantos do mundo. A idéia de exclusividade se apagou bastante. Conscientemente ou inconscientemente nós podemos enxergar a escala enorme por trás da produção dos bens de luxob e os grandes conglomerados destroem toda a filosofia de uma marca (Margiela x H&M). Jovens estilistas e start-ups como a Warby Parker estão trucando os conglomerados de luxo: Os seus preços altos realmente refletem materia primas superiores e fabricação superior? Como o nome da grife já não serve como garantia, os consumidores moveram seus olhares para o processo de produção das marcas como forma de garantir a qualidade antes de comprarem...por isso tantos vídeos da Gucci e LV mostrando sapatos sendo feitos, ternos sendo cortados, etc.

c) Um simples cálculo de oferta e demanda mostra que o volume de roupas produzido no nosso mercado globalizado é suficiente para desvalorizar qualquer peça de roupa. Alguns estudos mostram que roupas e tecidos estão sendo jogados fora a uma velocidade incrível! Existem pilhas e pilhas largadas por ai. A situação não é sustentável em um mundo cada vez mais preocupado com a tal sustentabilidade. Nós simplesmente temos muita coisa, e acho que muita gente já se cansou do processo de comprar bens de baixa qualidade para depois "desapegar", porque eles só vão se tornar mais inúteis com o tempo. Acredito que pelo menos na próxima década, o consumidor mais sofisticado vá continuar a comprar cada vez menos e para isso vai querer saber o exatamente o que está comprando.

No fim das contas acho esses acontecimentos criaram um grupo preocupado com a maneira que nós produzimos as coisas. Todas as estradas levaram de volta ao processo de produção pois todo bom produto começa com boas matérias primas, e cada passo é importante para o resultado final. 

Eu não gosto de ficar de blábláblá sobre esse tipo e coisa porque acho chato para caramba e não tenho experiência concreta para falar com propriedade. Mas essa foi a primeira parte das minhas reflexões.

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