Isaia, Introdução e a Coleção Primavera/Verão '13

20 de agosto de 2012



Prada, Gucci e cia. estão para a ISAIA assim como um Audi, Mercedes e BMW estão para um Rolls Royce, Bugatti, Koenigsegg e Aston Martin. Quem tiver a chance de tocar nos tecidos que ela usa e de experimentar um terno não deve perder a oportunidade. Os EUA são o destio mais comum dos brasileiros, e um bom lugar seriam lojas como a Bergdorf Goodman ou a Barney’s. Enquanto a sua mulher fica olhando as bolsas e sapatos, suba até o último andar e peça um vendedor para experimentar e dar uma volta com um terno. Só cuidado na hora de passar o cartão. Apesar de justificados pela qualidade, os preços ainda são definitivamente estuprantes. 

Este ano a Isaia fez algo diferente. Um projeto de Making Of muito legal em associação com o fotógrafo Justin Chung. Foram uma série de fotografias divididas em cinco capítulos mostrando cada etapa do processo criativo.'' Dessa forma foi possível acompanhar de longe o processo até o lançamento da coleção Primavera/Verão 2013 da Isaia.

Semana passada a Marisa do The Significant Other postou fotos que ela tirou no lançamento da coleção no showroom da Isaia em NY, mostrando que o resultado é realmente tão bonito e bem executado quanto a documentação do processo de criação me fez acreditar. Nas palavras dela, para quem gosta do assunto, a sensação de visitar o showroom é parecida com o que o Tio Patinhas deve sentir ao mergulhar na sua caixa forte de moedas.

Vamos voltar um pouco no tempo antes de falar das novidades. Napoles é o berço da alfaiataria Italiana. Enrico Isaia aproveitou a forte tradição da cidade para, em 1920, abrir uma pequena loja de tecidos. Todos selecionados das melhores fábricas Italianas e Inglesas e exclusivamente destinados ao vestuário masculino. Em 1957 ele decidiu entrar de vez na tradição de Napoles e realocou-se para a cidadezinha de Casalnuovo. Uma cidade muito especial: Mais da metade dos seus então 15 mil habitantes eram alfaiates! Junto com os filhos, Isaia iniciou a verticalização de sua empresa e abriu um ateliê ao lado de sua lojinha. Contratou alguns dos melhroes alfaiates da cidade e assim nasceu a Isaia.


Hoje, um dos grandes fortes da marca é o seu investimento nos tecidos. A família, que até hoje administra o negócio, conseguiu combinar o cuidado e artesanato do velho mundo com a tecnologia e inovação do novo mundo. Um grande exemplo é o tecido Aquaspider, que se move e estende conforme o corpo do usuário. O segredo da elásticidade natural está na própria trama. Ela é mais longa e larga do que o normal, e depois recebe um acabamento de encolhimento que confere ao tecido a resiliência para manter a sua "memória" e recuperá-la de acordo com a forma do usuário. Todo esse processo é realizado sem nenhum elemento sintético. 

Além disso, antes de se tornar tecido, o fio de lã utilizado no Aquaspider é revestido com um repelente natural contra água e manchas. Isso evita que o resultado final da impermeabilização não fique brilhante como a maioria dos tecidos deste tipo. Outra idéia interessante é a utilização das fibras dos pelos creme e marrom das ovelhas. A maioria da lã de hoje em dia é tecida a partir de fios tingidos que são fiados a partir de fibras do pelo branco das ovelhas. A Isaia consegue criar tecidos naturais completamente sem tingimento, em diversos padrões e tons de creme, beije, e marrom.

A alfaiataria de Napoles é conhecida por ser muito mais relaxada e suas jaquetas bem menos estruturadas. Os ombros são mais macios e sem enchimento. Alfaiataria Inglesa tem jaquetas com ombros bem mais armados e estruturados, idéia que nasceu da filosofia de usar o terno para esconder os defeitos do cliente e realçar as suas forças, preservando a formalidade acima de tudo. A filosofia de Napoles é fazer a jaqueta do terno ficar mais parecida com uma uma camisa, que permita ao homem manter a sua elegância sem perder o conforto, podendo seguir o seu dia sem se sentir restringido. Na língua de nerd, a comparação entre as filosofias é a diferença entre uma armadura e uma cota de malha. 

A fabricação portanto, mantém os padrões do velho mundo. O acabamento, inclusive a costura das mangas, são todos feitos a mão. Hoje, por ser mais barato e rádido, a maioria dos ternos utilizam entretelas que ficam coladas no tecido. No entanto, a entretela nos ternos da Isaia é de "horsehair canvas" e presa por costura ao invés de coladas. Por isso ficam soltas e flutuantes, formando uma segunda pele que acaba se moldando ao corpo sem alterar a aparência do costume, coisa que é impossíel quando a tela está grudada a lã e ao forro. 

Como a primeira parte do Making Of mostrou, essa estação foi inspirada pelas cores dos arredores de Napoles. O amarelo dourado das flores, o verde das portas e janelas, vermelho das bandeiras e corais e principalmente o azul do mar são a força por trás dos paletós e diversos acessórios. Certas cores e padrões podem ser arriscados demais, mas quando utilizados no contexto das produções acabam ficando muito harmônicos e servindo de exemplo de coo é possível fazer algo totalmente sem quebrar a forma e a estrutura do vestuário clássico. Todas as fotos abaixo foram tiradas e publicadas originalmente no Sig Other.


O adorno em forma de coral é uma marca registrada da Isaia. Este coral vermelho só é encontrado na baia de Napoles, e significa sorte. A mitologia conta que este raro coral mediterrâneo nasceu da lenda de Perseus e Medusa. Durante a sua caminhada de volta para casa o herói se apaixonou pela bela Andrômeda, que estava acorrentada a um rochedo na beira do mar para que o monstro Cetus a devorasse. Perseus conseguiu matar Cetus e soltar a princesa. Quando ele sentou na beira do mar para se lavar e descansar. O sangue da cabeça da Medusa foi derramado sobre algumas algas, que ficaram para sempre vermelhas e petrificadas. O adorno de lapela é um presente de boa sorte para os clientes da casa Italiana.


Um aspecto interessante dos paletós da Isaia é a aba de tecido extra que envolve a borda da gola. Esse detalhe é adicionado por razões estéticas, mas também faz parte da história de Napoles. Em uma entrevista eu li que antigamente os Napolitanos mais pobres pediam a seus alfaiates que adicionassem esse retalho de tecido para quando a parte de fora da gola ficasse muito suja e gasta, fosse possível dar vida nova ao terno passando o tecido de dentro para fora. O detalhe permanece nas jaquetas como uma lembrança do passado humilde de Napoles.















Fotos: The Significant Other

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